Mesmo com o aumento dos ruídos políticos e fiscais nas últimas semanas, o mercado financeiro segue confiante na valorização do real frente ao dólar. De acordo com reportagem publicada pelo Valor Econômico, a moeda brasileira tem apresentado desempenho superior ao de outras divisas emergentes, impulsionada principalmente pela fraqueza global do dólar e pelos juros reais elevados no país.

Na última semana, o dólar oscilou entre R$ 5,30 e R$ 5,35, registrando estabilidade mesmo diante da desvalorização do Ibovespa e da pressão sobre as taxas de juros futuros. No acumulado do ano, o dólar já cai 13,5% em relação ao real, consolidando a moeda brasileira entre as de melhor performance global em 2025.

Bancos internacionais revisam projeções e reforçam otimismo

O HSBC reduziu sua projeção para o dólar de R$ 5,50 para R$ 5,40 no fim deste ano e manteve a expectativa de R$ 5,00 em 2026. Para o chefe de estratégia de câmbio para a América Latina, Joseph Incalcaterra, o Brasil continua oferecendo um dos retornos mais atrativos entre os emergentes. “Com juros reais extremamente elevados — graças a um Banco Central ainda cauteloso e a uma taxa básica de juros de 15% —, vemos mais riscos de valorização do real do que de desvalorização”, afirmou.

O estrategista também observou uma melhora no relacionamento diplomático entre Brasil e Estados Unidos, destacando que os países “finalmente começam a retomar o diálogo”. Segundo ele, o foco do mercado tende agora a se voltar para a política interna brasileira, especialmente para as pesquisas eleitorais de 2026. “Vemos riscos adicionais para o real caso a taxa de aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aumente”, disse Incalcaterra.


Juros altos e dólar fraco sustentam o “carry trade”

A estrategista Andrea Kiguel, do Barclays, avalia que o diferencial de juros segue favorecendo a moeda brasileira. “O ‘carry’ continuará especialmente atrativo na medida em que o Federal Reserve avançar no ciclo de cortes de juros”, afirmou.

O Barclays projeta o dólar a R$ 5,20 no fim de 2025 e vê espaço para que a valorização do real continue no início do próximo ano. “Seguimos otimistas com o real até o fim do ano”, disse Kiguel.

O Bank of America também reforçou sua aposta na moeda brasileira, ao abrir posição comprada em real contra o peso mexicano. Os estrategistas Ezequiel Aguirre e Christian Gonzalez Rojas explicam que “embora tanto o real quanto o peso mexicano apresentem valorização superior a 10% no acumulado do ano, estamos mais construtivos com o real: está mais barato e oferece um diferencial de juros maior”.

Eles estimam que o real, atualmente cotado a 3,45 pesos mexicanos, pode atingir 3,80 pesos, destacando que o Brasil tem “potencial de valorização no médio prazo” caso mantenha a disciplina fiscal e avance em reformas estruturais.

Bancos brasileiros também adotam visão positiva

Entre as instituições locais, o Bradesco reduziu sua projeção para o dólar no fim do ano de R$ 5,50 para R$ 5,25. O economista-chefe Fernando Honorato Barbosa afirmou que “projetamos leve apreciação da moeda até o fim de 2025, sustentada principalmente pela fraqueza global do dólar — tendência que não deve se reverter no próximo ano”. Segundo ele, o real tende a se aproximar dos valores de fundamento estimados pelo banco.

Já o Santander mantém postura mais cautelosa, ajustando sua previsão para R$ 5,60 no fim do ano. A economista Ana Paula Vescovi observou que “com a atividade doméstica perdendo fôlego e os riscos fiscais voltando ao radar, esperamos que os ganhos recentes do real percam força”.

Perspectiva geral: otimismo moderado e vigilância fiscal

O consenso entre analistas é de que o real deve continuar valorizado até o fim de 2025, beneficiado pela combinação de juros elevados, dólar enfraquecido e apetite global por ativos emergentes.

Além do HSBC e do Barclays, instituições como Goldman Sachs e Société Générale também projetam o dólar a R$ 5,20 e recomendam posições compradas no real. Apesar disso, analistas alertam que a sustentabilidade dessa valorização dependerá da condução da política fiscal e da estabilidade política nos próximos meses.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Fontes: REDAÇÃO + brasil247