Para entender a manipulação na comunicação, é necessário olhar para quem produz a notícia, não apenas para quem a consome. A mídia, frequentemente alinhada a poderosos interesses econômicos e estatais, não é um espelho do real, mas sua construtora. O processo de manipulação começa muito antes da notícia chegar ao público; inicia-se na seleção do que será ou não noticiado.

Segundo Perseu Abramo, este é o primeiro e mais importante padrão de manipulação: a ocultação. Ao decidir o que é um “fato jornalístico”, a imprensa define também o que será invisibilizado. Um evento que não é noticiado deixa de existir no imaginário coletivo.

Mesmo os fatos que passam pelo crivo da pauta são dissecados pelo segundo padrão: a fragmentação. A notícia é apresentada como um estilhaço desconectado, um episódio isolado, sem suas causas profundas, contextos históricos ou consequências previsíveis. O público recebe peças soltas de um quebra-cabeça que nunca poderá ser montado.

O terceiro padrão de acordo com Abramo, a inversão, completa o quadro. A ordem de importância é alterada: o acessório torna-se central, e o fundamental é relegado a um detalhe. A versão do fato substitui o fato em si. A linguagem, carregada de adjetivos e enquadramentos específicos, modela a percepção, direcionando o olhar do receptor para uma única perspectiva, apresentada como a única possível.

A combinação habilidosa desses três padrões – ocultação, fragmentação e inversão – leva ao quarto e mais poderoso mecanismo de manipulação: a indução. Submetido sistematicamente a esse processamento da informação, o leitor é levado não a pensar, mas a concluir. É induzido a ver o mundo de uma maneira específica, a consumir uma realidade artificialmente inventada, a agir com base não no que aconteceu, mas na simulação do acontecido que lhe foi apresentada.

Nesse processo, como alertou Baudrillard, a mídia não apenas oculta ou recorta a realidade; ela a produz. A televisão e os jornais tornam-se simulacros, e a comunicação esgota-se na encenação de si mesma. A avalanche instantânea de informações reduz o tempo para a reflexão, nos desconectando da dimensão histórica dos acontecimentos.

A manipulação, portanto, não está na reação do público, mas na origem da notícia. Está na seleção das fontes, no tratamento dado à informação, no léxico escolhido e no enquadramento privilegiado em detrimento de todos os outros pontos de vista possíveis. Reconhecer essa engrenagem é o primeiro passo para exigir uma imprensa mais transparente e para consumir notícias de forma mais crítica e menos ingênua.



* Francisco Fernandes Ladeira é Professor da UFSJ, Doutor em Geografia pela Unicamp e Especialista em Jornalismo pela Faculdade Iguaçu.