A implosão da extrema direita brasileira ganhou novos capítulos nos últimos dias. Jair Bolsonaro, em prisão domiciliar e prestes a iniciar o cumprimento de uma pena de 27 anos e três meses por tentativa de golpe, tem feito chegar a interlocutores pedidos desesperados para que o filho, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), “feche a boca” e pare de atrapalhar negociações em torno de anistia e redução de sua pena. Proibidos de manter contato direto por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), os dois hoje se comunicam apenas por recados levados por aliados como o líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante

Nesta semana, Sóstenes viajou aos Estados Unidos e se encontrou com Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo, neto do ditador João Figueiredo e braço-direito do filho de Bolsonaro. O encontro foi registrado em foto publicada pelo próprio Eduardo, com a legenda: “Todos unidos pela anistia”. Nos bastidores, no entanto, interlocutores dão conta de que a reunião também teve a missão de transmitir o recado do ex-presidente para que o filho contivesse os ataques e não atrapalhasse os acordos políticos em Brasília.

Segundo Figueiredo, no entanto, se Bolsonaro de fato pediu silêncio, a mensagem não chegou: “Se [Bolsonaro] pediu [para o filho fechar a boca], o recado não chegou”, escreveu em suas redes.

Ele ainda ironizou as especulações de que Eduardo estaria isolado:

“O desespero agora parece ser que Eduardo Bolsonaro tomou uma ‘enquadrada’ e que está ‘atrapalhando’ e ‘isolado’. Não sei o quanto é ‘wishful thinking’ e o quanto é só mentira mesmo. Mas, em breve, vocês verão se haverá qualquer recuo de nossa parte”.

Longe de recuar, Eduardo tem radicalizado ainda mais o discurso. Instalado nos EUA desde o início do ano, onde articula sanções contra o Brasil e ataca ministros do STF, o deputado reafirmou que não aceita abrir mão da bandeira da anistia em meio às articulações do PL e centrão por um projeto que se limite a reduzir as penas dos golpistas.

“Se a intenção é salvar meu pai, então eu não poderia ser o empecilho ao acordo que (supostamente) o beneficia, certo? (…) É claro que dizer que eu trabalho só para salvar meu pai é uma narrativa fabricada para dizer que não o faço em prol do Brasil. Querem jogar o povo contra nós, na tentativa de nos enfraquecer. Mas sei quem eu sou e não atuo para ser elogiado. Nós venceremos”, escreveu no X.

Nas últimas semanas, o filho 03 partiu para o confronto aberto com o PL e com o próprio Valdemar Costa Neto, presidente do partido. Chegou a se lançar candidato à Presidência em 2026 sem o aval do pai e prometeu disputar até mesmo contra o governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de de Freitas, que é cotado para ser o nome da extrema direita ao Palácio do Planalto nas próximas eleições. A postura tem gerado incômodo dentro da legenda e, segundo aliados, irritado ainda mais Bolsonaro, que vê a beligerância do filho como um obstáculo à tentativa de costurar uma saída negociada para sua situação jurídica.

Paulo Figueiredo: “Bolsonaro é incapaz”

Paulo Figueiredo reforçou publicamente o discurso de que Bolsonaro já não tem condições de liderar. Ao republicar um texto de um bolsonarista no X, Paulo Figueiredo endossou:

“Hoje, o presidente é um homem sequestrado. É uma vítima presa, doente e incapaz de decidir. Nessas condições, ele não tem como liderar nem como orientar”.

Reprodução/X Paulo Figueiredo

Em outro tuíte, insistiu na tese de que Bolsonaro não pode negociar a própria saída:

“Não é muito complexo: Se você considera Bolsonaro um refém, então não pode esperar que ele negocie os termos da própria soltura. Se você não o considera um refém, então não entendeu nada do que está acontecendo”.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fontes: REDAÇÃO + revistaforum