OPINIÃO – “Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo!”
Foi a voz de Ulisses Guimarães a primeira a bradar em meus ouvidos assim que despertei e soube, emocionado, que a atriz brasileira Fernanda Torres havia ganhado o Globo de Ouro, uma das mais importantes premiações do cinema mundial, interpretando Eunice Paiva, esposa do então deputado Rubens Paiva, assassinado pela ditadura militar de 1964, no filme ‘Ainda Estou Aqui’, do cineasta Walter Sales: “Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo!”
Pra quem viveu anos do espúrio, cruel e assassino regime militar de 64; para quem se abrigou da truculência do coronel Antônio Erasmo Dias na Catedral da Sé junto com milhares de outros estudantes, sob as ‘asas protetoras’ de Dom Paulo Evaristo Arns; para um orgulhoso repórter da Rádio Alto Piranhas (Cajazeiras-PB) que cobriu em Brasília a instalação da Assembleia Nacional Constituinte em 1º de fevereiro de 1987; para quem acredita no governo do povo – democracia -, como eu, a vitória de Fernanda Torres é incrivelmente representativa. Representa a força, o talento e a pujança da chamada sétima arte brasileira, a exemplo de outras como a música, a dança, o canto, o teatro, a pintura, a escultura, o futebol… .
Representa mais: representa a libertação do grito sufocado anos a fio por liberdade. A premiação merecida à Fernanda Torres é o merecimento do abraço afetuoso à história de Eunice Paiva e sua família, com o pedido de perdão de uma nação envergonhada pelo passado escrito por maus brasileiros.
O Globo de Ouro 2025 da melhor atriz de filme de drama representa a derrota cabal e definitiva de discursos, falas, manifestações, predicações e falsas inferências à ditadura de 1964 como um regime do bem.
A premiação de Fernanda Torres é a premiação de Eunice Paiva como esposa e mãe de um marido assassinado e de filhos órfãos pela ação covarde e criminosa da uma ditadura.
Viva Fernanda Torres. Viva Walter Sales. Viva o cinema brasileiro. Viva às artes do Brasil. Viva à democracia. Ditadura nunca mais!
Afinal, como disse o ‘Senhor Diretas’ na promulgação da Constituição de 1988 , “temos ódio à ditadura. Ódio e nojo!”
E continuamos a ter hoje e sempre!
- Fernando Caldeira