A imagem de Jorge Mario Bergoglio sozinho, de pé, fazendo uma oração para a Praça de São Pedro vazia foi daquelas de arrepiar até o mais cético dos ateus. Mais de dois mil anos de história falaram pela boca do Papa argentino. Palavras simples e profundas do homem que promoveu o reencontro da Igreja com os mais pobres.

Os feixes de luz do Vaticano pareciam iluminar as almas dos 9.134 italianos mortos por uma pandemia que insiste em desafiar o mundo. Até as estátuas da gloriosa praça choraram. Na praça dos fiéis, um gigante vestido de branco confortou as famílias despedaçadas pelas perdas irreparáveis.

Na falta de lideranças políticas que inspirem o planeta, coube ao Papa Francisco a emissão de palavras que calaram fundo. Um alerta às nações sobre o verdadeiro sentido de nossa existência.

A energia emanada de Roma envolveu especialmente Milão, cidade italiana que concentra um grande número de óbitos. Os milaneses subestimaram o perigo. No início da crise lançaram a campanha “Milão não para”.

Estão pagando pelo pecado da ganância com despedidas dramáticas de seus entes mais queridos. Impossibilitados de se aproximar dos hospitais, despedem-se de familiares através de ligações de vídeo feitas por médicos para seus celulares.

Não há velório. Após a morte por asfixia os corpos são encaminhados para caminhões do exército que os levam para crematórios. A tela do celular comprado enquanto a metrópole não parou é fria. Não é possível tocar uma pessoa ou sentir o calor através dela. A impotência e a solidão do último adeus atormentam os corações.

Enquanto Jorge Mario Bergoglio celebra a vida, no maior país católico do globo, um falso pastor insiste em conduzir seu povo à morte.

Bolsonaro tenta criar uma contradição entre quem defende a economia e quem quer proteger vidas. Um diversionismo rasteiro com o objetivo de esconder o que realmente o move: o desprezo pelo próximo.

Protegidos dentro de seus carros e escritórios luxuosos, uma elite escravocrata tenta empurrar milhares de prisioneiros da fome para dentro do navio negreiro. A Casa Grande tem plena consciência do fato de que na travessia do Atlântico a maioria dos acorrentados será assassinada pela doença.

O mundo já indicou o caminho. Salvar vidas e a economia ao mesmo tempo. O dinheiro, um papel que não passa de uma convenção coletiva, um contrato social que viabiliza a vida em sociedade, não teria nenhum sentido se não se prestasse a esta missão: proteger da doença e salvar vidas humanas da fome.

O reducionismo maniqueísta ganha ares de excelência quando a estupidez procura desorientar a nação. É simples. Vida ou morte, de que lado você está? Aproveite o tempo em casa para refletir. Cuide de si, dos seus e do próximo. Declare amor à humanidade. Fique em casa.

 

  • Ricardo Cappelli