Sobre a pesquisa do Datafolha realizada logo após a condenação de Lula pelo TRF4 e divulgada hoje.

1. Lula segue inabalável na liderança rumo à vitória já no primeiro turno com 37%. Ciro chega aos 7% e Manuela D’Ávila (PCdoB) a 1%. Ou seja, os candidatos da esquerda chegam juntos aos 45%, isso sem campanha e com toda a grande mídia à disposição da direita mercadista para destruir a imagem de Lula – e também de Ciro, – sem permitir que eles se defendam.

2. Não existe alternativa viável a Lula entre os candidatos da elite econômica. Fevereiro já chegou e todos eles continuam a patinar abaixo dos 10%, cenário que se mantém há meses. O desespero dessa turma é até Luciano Hulk vira candidato, na certa esperando que o eleitorado brasileiro repita o americano, que elegeu Trump. Trump foi eleito não por ser empresário e apresentador de programa de TV. Só idiotas acham que Trump foi eleito por conta isso. A candidatura de Hulk é inviável. Além de ser o “candidato da Globo”, Hulk não resistiria a uma investigação séria a respeito dos seus negócios e das suas amizades. Trata-se de um playboy mauricinho, mas sem o charme cafajeste de Aécio Neves.

3. Bolsonaro mantém-se em segundo. Aqui reside a chave da estratégia da grande mídia. Não pensem que eles apoiarão Bolsonaro. Depois do impedimento de Lula, o segundo passo será viabilizar um candidato para levá-lo ao segundo turno com Bolsonaro e apelar à união nacional contra o ex-milico proto-fascista. Sem Lula, o que tende a prevalecer será a fragmentação de candidaturas e uma disputa semelhante a de 1989, quando nenhum dos candidatos atingiu sequer os 30% de votos no primeiro turno. A avaliação dessa turma é que Bolsonaro mantem esse patamar, que tende a levá-lo para o segundo turno. O candidato apoiado pelo empresariado, pelo mercado financeiro e pela grande mídia teria forças para chegar ao segundo turno.

4. O problema dessa estratégia se chama Ciro Gomes, que tende a ser o desaguadouro natural de parte do voto lulista. Ciro já chega aos 13% no cenário sem Lula, quase dobrando as intenções de voto. Considero que, na medida que o quadro do impedimento de Lula amadureça, o apoio do PT a Ciro será inevitável. Haverá a pressão dos acordos estaduais, da montagem das chapas proporcionais. Além disso, a necessidade do PT manter a candidatura de Lula diminuirá as chances de um candidato alternativo do PT. Tudo isso tende a produzir uma racionalidade política que Lula, mais do que ninguém, tenderá a incorporar e, no tempo certo, aderir a ela.

5. É fundamental evitar que Lula seja preso, porque essa parece ser mesmo a disposição do Judiciário. E Lula precisa ficar livre não apenas para evitar que Lula seja entregue como troféu à sanha do antilulismo. Lula precisa ficar livre para continuar denunciando o golpe, para organizar a esquerda, reunir multidões, mobilizar o povo contra as reformas e por um programa nacional-popular, e articular uma frente ampla em torno desse objetivo. Por isso, Lula deveria imediatamente retomar as caravanas e ficar o mínimo possível em São Bernardo. Nem dormir em hotéis. O endereço de Lula, até a eleição, deveria ser
a casa de cada companheiro, que o abrigaria em cada cidade que Lula visitasse. E sob a vigília de apoiadores.

6. Lula solto ganha essa eleição, mesmo que não seja candidato.

 

  • Flávio Lúcio Vieira – Cientista Político