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EXCLUSIVO – Ex-ministro de Ciência e Tecnologia do 1° governo Lula, Roberto Amaral está em João Pessoa a convite do Fórum Universitário da UFPB para proferir palestras sobre o momento político atual e sobre a mídia.

Em entrevista exclusiva ao blog, Roberto Amaral fala da falência do regime presidencialista no país, e considera suicídio do PSB, partido do qual é um dos fundadores, ter aderido ao PSDB na campanha de Aécio Neves.

O ex-ministro de Lula elogiou o governador Ricardo Coutinho, a quem qualificou de “um quadro exemplar da esquerda”, por sua posição de defesa do PSB como partido da base aliada do governo, em que pese a atual direção ter desvirtuado o posicionamento tradicional do partido.

Defendendo a Petrobrás do que ele imagina ser uma campanha para desnacionalizar aquela que é a maior empresa brasileira, Roberto Amaral defende o controle social da mídia e aconselha a Presidente Dilma Rousseff a não fazer concessões para a governança.

A ENTREVISTA

FC – Ministro, o sr. escreveu um artigo intitulado “A falência do presidencialismo.” O regime brasileiro é presidencialista. O Brasil está falido?

RA – Não. O Brasil está muito bem, obrigado. O que nós estamos vivendo é um crise de superestrutura. O presidencialismo a que me refiro é o presidencialismo de coalizão. É um presidencialismo que exauriu a suas possibilidades e é responsável pela crise política que nós estamos vivendo. O Presidente da República, eleito de forma majoritária pela população, lhe dá o mandato, mas no entanto não lhe oferece maioria no Congresso Nacional para que ele possa exercer, executar os compromissos que ele assumiu na campanha eleitoral. Então nós temos um poder executivo comprometido com a linha A e um poder legislativo que nós precisamos preservar, comprometido em combater essa linha. Isso dá um conflito. Para poder governar, o Presidente da República, o governador, o prefeito, qualquer chefe de executivo, tem que fazer uma coalizão. Ele só pode fazer coalizão com seus adversários. Então ele tem que trazer novos partidos para compor a maioria sem a qual ele não pode governar. Ou seja, para governar, ele tem que renunciar ao seu programa. Ou seja, ele tem que trair o seu programa o que, de certa forma, é uma fraude eleitoral.

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FC – O sr. escreveu outro artigo intitulado “Harakiri ideológico do PSB.” O Harakiri é um ritual de autoflagelo dos japoneses que pode levar à morte. Exatamente o que o sr. quis expor quando tratou do Harakiri ideológico do PSB?

RA – Exatamente isso. Que o Partido Socialista Brasileiro, desnecessariamente, renunciou a sua história, renunciou a biografia dos seus ex-dirigentes e ex-fundadores, renunciou a sua ideologia por puro oportunismo. Isto é o harakiri ao qual me refiro. O harakiri é o rito japonês, que é bonito. Eu espero que os japoneses não se ofendam se eu comparei o ato do meu partido com o harakiri. Eu quero dizer que ele suicidou-se, assassinando a sua história. O que é fundamental aí, é que além disso, dessa traição à sua história, é um ato de burrice. Com a crise dos partidos de esquerda, o PSB tinha todas as condições de ser a alternativa da esquerda socialista e democrática. Ele renuncia a esse papel para ser o rebutalho, para ser um agregado, para ser um apêndice, um anexo do Partido da Social Democracia Brasileira.

FC – O governador da Paraíba é do seu partido e resiste a esse novo posicionamento do PSB. Dentro do partido, ele advoga o apoio à Presidenta Dilma Rousseff. O sr. acha que o governador está certo de fazer essa defesa, estando o PSB, majoritariamente, contrário a isso?

RA – Claro. Eu fiz isto. Erundina fez isto. Movimento sindical fez isto. A senadora Lídice da Mata fez isto. O movimento juventude fez isto. O deputado Glauber Braga fez isto. E principalmente fez o governador Ricardo Coutinho, com a sua dupla autoridade de um quadro exemplar da esquerda e de um governador. E mais do que isso, ele não apenas se pronunciou contra a adesão injustificada ao Aécio, como aqui na Paraíba ele apoiou a campanha da Presidente Dilma.

FC – Como é que o sr. vê essa história de Lava Jato, de Petrolão?

RA – Evidentemente que eu vejo com tristeza, vejo com apreensão, e vejo até com mágoa. Essa gente não está a altura dos que nos anos 40 e 50, dos estudantes, dos trabalhadores e de setores militares que foram às ruas do Brasil inteiro defender não só “O Petróleo é Nosso”, como a Petrobrás. A Petrobrás, porém, felizmente é uma empresa muito grande, ela detém know hall, ela detém tecnologia, ela detém extraordinário capital humano, ela é economicamente muito forte, ela tem atrás de si a riqueza do pré-sal, e isso vai assegurar a sua sobrevivência. Tudo de mal foi feito contra a Petrobrás, mas é preciso distinguir entre a necessária punição dos responsáveis pelos desmandos, com o que estão querendo fazer que é, ao invés de punir os crápulas, punir a empresa cortando seus investimentos, vendendo os seus ativos e especulando na bolsa de valores com as suas ações. A população brasileira precisa ficar atenta a isso, porque atrás da campanha da imprensa há uma tentativa de desnacionalizar a indústria do petróleo em nosso país. Isso é muito grave, porque vai levar à falência centenas de empresas brasileiras e vai levar ao desemprego milhares e milhares de trabalhadores. O complexo Petrobrás é responsável por 13% do PIB nacional. A crise da Petrobrás abala a economia brasileira.

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FC – O que o sr. pensa da tese do controle social da mídia no Brasil?

RA – Nós temos o controle dos ônibus. O Estado controla as concessões de ônibus. O Estado controla as concessões das estradas. É obrigação do Estado controlar todas as concessões de serviço público. Os meios de comunicação de massa, radiofônicos e televisivos, são concessões de Estado. Por que não controlá-los. Não é controlar conteúdo. É controlar a exploração de mercado, é impedir o dumping, e controlar e impedir o oligopólio, é controlar o monopólio. Nós temos uma autarquia, o CADE, Conselho de Administração de Defesa da Economia, que impede o dumping na economia, que duas empresas se juntem para absorver o mercado. E nós permitimos que uma empresa tenha 60% da publicidade. Por que não controlar isso?

FC – Se a Presidenta Dilma lhe pedisse um conselho, o que o sr. diria a ela?

RA – Que ela não faça concessões na governança, que ela exija do partido dela uma autocrítica, que ela vá à sociedade, ocupe os meios de comunicação de massa para ela também fazer a sua autocrítica e chamar o povo, que a atenderá, para exercer o governo em novas bases.

FC – Em 2018, tem volta Lula?

RA – Não sei. Só a Pitonisa ou quem joga búzios.

FC – O sr. vê algum nome da esquerda…

RA – Hoje não. Hoje nós não temos nenhum nome. Nós precisamos construir esse nome, nós precisamos construir alternativas. Nós temos pouco menos de três anos para isso.