A televisão que assistimos e os políticos que elegemos
Cresce a cada dia o número de pessoas que reconhece o poder da mídia, sua influência na vida das pessoas, muitas vezes moldando comportamentos, formando opiniões, direcionando o voto. A internet é um elemento bastante favorável a esta tomada de consciência. Porém, há ainda muito que avançar, pois ainda há também uma enorme parcela da população que sequer questiona este papel poderoso dos meios de comunicação de massa, com forte destaque para a televisão.
Os telejornais, novelas, programas de humor e outros “entretenimentos” são campeões em disseminar gostos, modas, preconceitos, posições políticas, seja de forma explícita ou embutida em seus conteúdos, sempre tão atrativos para o público que mantém fiel a audiência. Mesmo acessando internet, realizando tarefas domésticas, comendo em casa ou em um restaurante, conversando na sala em família ou com visitas, paralelamente a isso sempre mantemos o aparelho de TV ligado.
Não é novidade que no Brasil a maior parte desta audiência vai para a Rede Globo de Televisão, grande aliada da ditadura militar. Sim, pois havia um objetivo em comum entre o regime militar e as empresas de comunicação: instigar o crescimento do sistema capitalista no Brasil. Para isso, era estratégico o aumento do consumo, de produtos e de ideias.
Para o governo militar, a TV, principalmente, seria um meio para se criar uma desejada integração nacional, inclusive em combate a quem quisesse “desagregar” a sociedade com ideologias diferentes das do regime militar e do capitalismo. Isso vem junto com a expansão da energia elétrica nas zonas urbanas e rurais e com o aumento da produção dos aparelhos de televisão.
Sem interesse na mídia educativa
Isso explica o porquê de até hoje ser tão comum a falta de pluralidade da televisão brasileira. Apesar do capítulo V da Constituição Federal de 1988 (Art. 220 a 224) tratar da obrigatoriedade dos meios de comunicação darem preferência aos conteúdos educativos, artísticos, culturais, regionalizar a produção jornalística, divulgar a produção independente etc., o que se vê é a imposição da ideologia de poucas famílias ou grupos empresariais que violam mais um item da Carta Magna e formam os monopólios e oligopólios da comunicação no Brasil.
E o que nosso voto tem a ver com isso? Tudo. Dois fatos me chamaram atenção. Li uma matéria acerca da postura do deputado baiano Adolfo Menezes (PSD), que fez um pronunciamento na Assembleia Legislativa indignado com uma cena da novela global Império. Segundo ele, saiu da sala constrangido com a cena de um beijo entre dois homens em um dos capítulos da última semana da novela e ainda disse que já viajou ao lado de um casal homossexual em um avião e precisou tomar calmante para dormir. Mas vendo partes do último capítulo de Império, me veio uma inquietação: será que o deputado fará pronunciamento sobre as cenas de violência da novela? No último dia houve sequestro, assassinato e, ao longo de toda a trama, houve inúmeras situações de violência.
Falso moralismo. Infelizmente é essa a postura de muitos políticos com mandato e de muitos/as telespectadores/as. Não apenas com relação à homossexualidade, mas a outros tipos de desrespeito aos direitos humanos, à diversidade, às liberdades. E a reforma da mídia, será que o nobre deputado Adolfo Menezes sabe o que é? Qual será a posição dele? São poucos as/os parlamentares que levantam esta bandeira. Hoje se fala em reforma na comunicação no Brasil, mas não é motivo pra gente se animar – não sem antes mudar nossas decisões nas urnas.
Hoje, a maior parte da Câmara dos Deputados e do Senado é cria da Rede Globo, da ditadura militar e de outras estruturas de poder que não têm interesse algum numa mídia educativa, progressista, comprometida com a diversidade brasileira e pluralidade de ideias de todas e todos que fazem esta nação.
Sigamos persistindo e ajudando a descortinar olhares e estimular atitudes de mudança.
Por Érica Daiane Costa (Jornalista)
Observatório da Imprensa