Cida Ramos

* Flávio Lúcio Vieira

Li com indignação o que o jornalista Dércio Alcântara publicou hoje em seu blog sobre a professora Cida Ramos, nova candidata do PSB à prefeitura de João Pessoa. Segundo ele, o “PSB faz opção pelo pieguismo do apelo a [sic] piedade, pois ela [Cida Ramos] é especial”.

Por favor, não leiam o que vou escrever a seguir como uma manifestação antecipada de voto, mas uma maneira de exprimir minha repulsa a esse tipo de tratamento, esperando que ele não prospere ao longo dessa campanha que promete ser dura.

Não se trata apenas de uma mesquinharia humana, dessas que hoje povoam as redes sociais, com a diferença de que Dércio Alcântara não se esconde atrás de perfis falsos. Mas, é inquestionavelmente uma avaliação política interessada, que procura reduzir toda a trajetória de Cida Ramos à sua deficiência motora.

Cida carrega consigo uma história e é essa história é o que melhor a define, não o preconceito de assertivas como essa proferidas por Alcântara.

Conheci Cida Ramos em 1984, quando eu era secundarista e ela universitária, nas lutas estudantis pelas Diretas, Já!

Na convivência que com ela estabeleci, que foi muito próxima até 2005, nunca vi Cida utilizar-se de sua condição para ter a condescendência ou a piedade de ninguém.

Pelo contrário. Receber ajuda foi algo que ela sempre aceitou com muita resistência.

Pelo que sei de sua história, Cida contraiu paralisia infantil quando ainda morava com sua família na cidade de Sapé e foi isso que a trouxe para João Pessoa.

E esse acontecimento, tenho certeza, não a tornou nem mais nem menos mulher, nem a deixou uma cidadã menor. Para muita gente, sua vida é um exemplo inspirador de luta, determinação e superação, e nunca de piedade.

Todas as suas conquistas profissionais, por exemplo, aconteceram em razão não de qualquer ato de comiseração, mas pelo mais legítimo esforço: tornou-se estudante de graduação da UFPB para depois seguir uma vitoriosa carreira acadêmica que a levaria a conquistar os títulos de mestrado e doutorado em Serviço Social.

E pelo que sei, Cida entrou para os quadros docentes da UFPB através de concurso público de provas e títulos, como todo professor contratado por qualquer universidade pública do país depois da Constituição de 1988.

Foi coordenadora do Mestrado em Serviço Social e diretora do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes.

Cida Ramos é casada há décadas com o também professor Jaldes Meneses e com ele tem duas filhas, certamente duas de suas maiores conquistas.

Cida foi eleita presidente do Diretório Central dos Estudantes e, anos depois, já como professora, foi presidente da Associação Docente e é reconhecida sem contestação como a maior liderança docente da UFPB.

Em 2011, foi convidada pelo governador Ricardo Coutinho para assumir a Secretaria de Desenvolvimento Humano da Paraíba, e, pelo que é de domínio público, Ricardo não chama ninguém para auxiliá-lo por “piedade”.

O rigor pelo qual o governador é reconhecido no trato com seus auxiliares é uma prova da eficiência de Cida, que está à frente da Secretaria há mais de cinco anos. Portanto, Cida foi também testada também como administradora.

Assim, o que o jornalista Décio Alcântara escreveu e publicou não foi apenas a manifestação de um torpe preconceito, mas a expressão de um erro comum, que é subestimar a capacidade e as qualidades políticas de Cida Ramos.

É um mau começo. Luciano Cartaxo que se cuide.

 

* Flávio Lúcio Vieira é cientista político e professor da UFPB